Revisitar Gil Vicente, é remexer nas memórias de infância. Na experiência de brincar ao Diabo, deste Auto, na apresentação para uma aula de Português. Mais tarde e já em Coimbra, foi na Escola da Noite que aprendi a gramática Vicente, e sem a qual, garanto, não me poderia aventurar neste Auto da Barca do Inferno.
Trazer à cena o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, é uma proposta arriscada, mas que permite-nos, aos Fazedores e público, revisitar os genes do nosso teatro. A questão a colocar não é se faz ou não sentido fazer Gil Vicente hoje, a resposta é óbvia, mas poderá ser: como fazer Gil Vicente transpostos 500 anos? Como comunicar todas as suas nuances, a sua musicalidade, e integra-lo no aqui e agora, sem esquecer que Coimbra, Gil Vicente, e o TEUC, traçaram tangentes tantas vezes.
Nesta encenação não pretendo actualizar, nem tão pouco fazer uma reconstituição histórica de um Portugal quinhentista, mas gostaria de burilar as suas palavras, de encontrar com as actrizes, seis por sinal, a sua fisicalidade, o seu jogo, e de construir uma trupe que brinca com e ao Teatro.
Queremos, e agora uso o plural, fazer um espectáculo íntimo, um espectáculo que nasce da proximidade física, onde a comunicação seja feita olhos nos olhos, tal como foram os espectáculos apresentados por Gil Vicente na Corte, em pequenos espaços, e deste modo, rir deste Mundo às avessas, rir dos outros, rir no passado para inscrevermo-nos no Futuro.
Entramos na Barca, resta saber para onde nos leva...
Ricardo Correia
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